Rio de Janeiro, 3 de junho de 2012
Venho através destas mal traçadas linhas, falar-lhe um
pouco, e, talvez, confundir-lhe. Venho abrir meu coração e desafogar um pouco a
minha garganta que há muito transborda palavras. Sei que sou desajeitada e
desajustada, você faz questão de sempre lembrar. Sei que, por vezes, dificulto
o indificultável, reprimo o irreprimível e calo o incalável. Mas isso faz parte
de mim, nasceu comigo e irá morrer.
Eu deveria te deixar partir e deixar você pegar o primeiro ônibus
para sua cidadezinha medíocre com toda a naturalidade do mundo. Deveria rasgar
todas as nossas fotos, pegar todos os presentes e tacar no primeiro filho duma
puta que tiver qualquer traço de semelhança contigo. Eu podia pintar o cabelo
de loiro, fazer franja e repicar, só porque eu sei que você detesta. Poderia voltar
a roer as unhas, beber aquela pinga barata que vende no mercado da esquina e
cheirar umas duas carreiras de pó, só porque meu organismo é frágil e
provavelmente eu iria parar no hospital. Mas aí é muito egoísmo da minha parte.
E eu não suportaria ser egoísta com você, nem mesmo fazer você correr, largar
tudo, só pra cantar aquele trecho de Los Hermanos pra mim... mas moreno, não tá
nada, nem um pouco, bem. E acho que nem vai ficar. Pelo menos não por agora. Eu
prometi não te preocupar, aguentar firme, levar Odontologia a sério, voltar
para a autoescola e jogar o sofá velho fora. Só que eu não fiz nada disso. Nem sequer
me esforcei. Tenho gastado todo o resto de sanidade mental que ainda existe
tentando me convencer que acabou e que eu consigo caminhar sem precisar da sua
mão, da sua companhia e da sua voz me dizendo “pode andar, encrenca”. Tenho gastado
todo meu tédio andando do lado esquerdo da calçada, porque eu sei que o seu TOC jamais todos esses anos
essa desgraça desse seu TOC me impedia. Tenho cozinhado macarrão sempre que
posso, porque “é comida de gordo, Mariana”. Criei uma rotina de merda pra ver
se percebo que é muito melhor sem você. Bullshit!
Minha mãe está gastando o que não pode com a terapeuta. Não sei
pra que. Os instantes que me vejo naquela sala cheia de livros e transbordando
cheiro de desajustados, sinto vontade de abrir o janelão que dá de frente prum
prédio antigo, cinza e feio e me jogar. De repente eu viro notícia no RJTV. Ah,
minha mãe até perguntou por você esses dias. “Como tá Túlio?”. Como que está,
Túlio? Bem? Respirando? Vivendo? Perdido? A gente faria 6 anos de namoro hoje. Você
iria me telefonar, iria parar com a moto na portaria, a gente iria almoçar em
qualquer lugar que tivesse uma vista pro mar, você me daria uma barra de
Diamante Negro e um pedacinho do meu lugar preferido. E eu iria me sentir em
paz. Hoje, quando acordei, não tinha mensagem na caixa, convite para almoço,
moto buzinando, vento batendo no cabelo enquanto o motor gritava, pedaço de
lugar nenhum. Só um Diamante Negro largado no sofá de ontem ainda.
Eu estou tentando deixar você ir. Juro que estou. Mas hoje
não deu. Hoje eu te quis mais que a mim. E eu sei que é erro meu. Eu tenho que me
querer antes de tudo! Pode ser que amanhã eu vá eu te ligue, te mande um SMS. Eu só
queria pedir que você entendesse se eu fizer isso. E me atendesse. Nem precisa
falar, só me deixa ouvir você respirando, ou tossindo, ou espirrando, ou
qualquer uma dessas coisas imbecis que fazem o coração bater mais forte e as
lágrimas rolarem no rosto. E não brigue por eu insistir em viver de migalhas e
lembranças. Eu não combino com a imagem de forte, cara. Me deixa ser
frágil!!!!! A nossa música
está tocando na rádio... but I’m in so
deep/ you know I’m such a fool for you/ you got me wrapped around your finger/
do you have to let it linger?
Do you?
Beijos, garota encrenca.
Listen: Babe, I'm gonna leave you - Led Zeppelin
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