Twenty twelve/ Twenty thirteen
Adeus ano gasto, feliz clichês novos. Que promessas sejam
feitas no ciclo que se repete. Como uma máquina.
Eu poderia passar horas me prolongando, linha após linha,
desejando união, paz, sabedoria, sonhos, amores, dinheiro, saúde e todas essas
doses de convenções sociais que se repetem a cada 31 de dezembro. Poderia dizer
que, contrariando a todas as expectativas, o mundo não acabou e provavelmente
os Maias só ficaram com preguiça de continuar a contagem. Ou eles previram o
início da era de Aquário. Podia dizer que acho engraçado dois mil e treze ter
treze letras e antecipar as previsões de que o mundo vai acabar numa data
aleatória qualquer, mas repleta de coincidências numéricas. Podia fazer uma
lista prometendo emagrecer, entrar numa academia, ser mais participativa em
qualquer coisa útil a sociedade, plantar uma árvore. Ou poderia listar todas as
minhas conquistas e pseudo-conquistas. Eu poderia por um trecho da Bíblia, citar
Drummond, Pessoa, Caio F., Clarisse Lispector, Antoine de Saint-Exupéry ou quem
quer seja. E nesse mar de poderias eu escolhi não fazer nada. Apenas levantar
da cama e continuar com essas sempre mal traçadas linhas, cheias duma presunção
de menina metida à artista. Continuar porque alguma coisa precisa continuar,
afinal: sejam os velhos hábitos, sejam os eternos clichês, sejam as
superstições. Continuar a andar, mesmo que o caminho seja incerto e a gente
nunca saiba se tem forças para continuar. Continuar a respirar, mesmo que o ar
pareça rarefeito e você sinta que vai sufocar a qualquer momento. Continuar a
acreditar, porque, no final das contas todos precisamos ter fé, nem que seja no
time que foi pra série B após uma péssima campanha. Ter fé e ver coragem no
amor. Se não for no amor, pode ser no que der. Continuar a esperar: o ônibus, o
salário, a chuva, o vento. Continuar a ser o que puder ser. Continuar.
Continuar a ser máquina, a responder aos estímulos ou ir contra a correnteza.
Continuar, num mar de incertezas, a ser humano. Parar com desculpas, com manias
bestas de se justificar pro mundo. O mundo não espera, o mundo gira, todos os
dias até completar as benditas 365 rotações e mais um ano começar. E as pessoas
se preocuparem, novamente, com a roupa que vão usar, cor da calcinha, marcar
salão, ir para o melhor lugar, ver a queima de fogos e se permitir, por uma
noite, que uma onda mística de esperança encha o peito. Metaforizar que cada
fogo que se queima é uma chama que se acende, é um sonho que fica claro dentro
de você. Beijar a boca de um desconhecido, porque dizem que quem vira o ano
beijando, beija o ano inteiro. Beber champagne, porque champagne é chique né? E
quando for amanhã, bom, deixa lá.
Me disseram hoje a
tarde que se não fosse a contagem dos anos, pré-estabelecida, provavelmente
essas comemorações não existiriam. Bom, no final das contas o que começa e o
que termina é a consciência de cada um. Então, feliz consciência. Feliz tudo de
novo.
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