And I set fire

Ele sempre fora um amante do fogo. Aquele misto de cores, de alguma forma, exercia um fascínio inexplicável e por vezes incontrolável. Eles dois eram melhores amigos: o fogo e Paulo. Desde criança.

Ele acendia um fósforo e assistia aquele espetáculo que durava menos de 1 minuto. Às vezes ele ficava brincando com o isqueiro, só para ver a chama aparecer e desaparecer. E passava uma tarde inteira fazendo isso. Já maiorzinho aprendeu a queimar as provas e boletins. Juntava tudo no chão e largava dois fósforos em cima. Sentava e esperava pacientemente todos os papéis se queimarem até virar cinza. Na adolescência aprendeu a queimar as estúpidas cartas de amor que fazia e os poemas também. Até que aprendeu a fumar. Era uma sensação que beirava o orgasmo, era como se estivesse engolindo o fogo. Aí conheceu uma menina, Marina o nome dela. Ela vinha de uma família circense e por pura coincidência era pirófaga. Aprendeu a técnica com a menina. Tempos depois o circo foi embora, Marina foi embora e ele cansou de cuspir fogo.
Mudou de cidade. Passou no vestibular para Gastronomia. Todos os pratos que fazia tinham que ser flambados e por isso mesmo ganhou o apelido de “flamboy”. Por um acaso, surgiu à oportunidade de fazer uma especialização em culinária no Canadá e a casa em que morava tinha lareira. Suas noites nunca foram as mesmas. Passava a noite em claro, assistindo a madeira crepitar.

[...]

Achou uma garrafa de álcool etílico perdida pela casa. Tinha sido um dia muito difícil, talvez o mais difícil de todos. Quando se deu conta, a casa já estava incendiando. Ele não teve coragem de pedir ajuda, não teve coragem de pegar o extintor do prédio, não teve sequer coragem de levantar do sofá.


O corpo de Paulo foi encontrado totalmente carbonizado.


Listen: Cosmic Love - Florence and The Machine

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