it doesn’t matter anymore

“You’ll never understand love with you never open yourself for it.”

   E foi daquele jeito, em meio à briga, que eu percebi tudo que deveria ter percebido anos atrás. Não é que a gente tenha desmoronado do nada, na verdade a gente nunca chegou a construir nada sólido. Só que ali, parada quebrada e em silêncio eu pude perceber a verdade, clara como sempre fora. Todo o amor que um dia prometemos sentir um pelo outro nunca existiu. E diante de todas as palavras ditas e as lágrimas que insistiam em cair, a realidade parecia ampliada zilhão de vezes, igual às bactérias nos livros de Biologia. Não é como se eu me importasse, eu nunca me importei, mas é que perceber que todos os seus sonhos e promessas de um futuro bom não se concretizariam doía e muito. E eu conseguia entender claramente que aquelas quatro palavras sempre fizeram todo o sentido para nós.

- Eu nunca te amei.

- Como é?

- Eu nunca te amei, Rogério. E nem acho que você um dia tenha me amado.

- Você pirou.

- Não, Rogério. A gente nunca se amou. A gente só gostava dessa sensação. Essa coisa de ter alguém lá. Mas a gente nunca se amou, a gente nunca se respeitou. A gente só foi acontecendo.

- Você surtou Sheila. Totalmente.

   Mas eu realmente não estava surtada. Eu só não queria mais aquela conversa, aquela sala, aquela presença. Eu não queria mais viver assombrada pelos fantasmas do que a gente poderia ter sido, porque o que a gente poderia ter sido, nunca fomos.

   Não é como se a gente deixasse de se amar repentinamente. A gente nunca se amou, como já disse. Não intensamente, o suficiente para passar por cima de todos e de tudo. Mas demoramos de enxergar. O problema é que a verdade simplesmente dá um jeito de se mostrar. E quando se trata de amor, ela se mostra das formas mais cruéis possíveis.

   E não é que eu não acredite do amor, é que eu nunca tive provas de que ele existe. Eu só espero que um dia ele apareça, de verdade. Mas se não aparecer, eu vou estar lá: parada, quebrada e em silêncio. Como eu sempre estive.

Listen: Rolling in the deep - Adele