we're no good


"It is all my fault. I'm the one here who gave myself to you.”

    Chuva. Frio. Culpa. Tudo, necessariamente, nessa ordem. Dois corpos nus ocupando um espaço no planeta. Dois corpos nus completamente cansados de tanto fugir, de tanto tentar, de tanto sentir. Dois corpos nus que não se completavam em nada, mas que insistiam em ficar juntos, em fazer alguma coisa funcionar. Era assim que eu via a gente: como dois corpos estirados numa cama, cansados e satisfeitos após uma longa transa.

    Ele não era o cara perfeito, embora eu insistisse nessa relação. Ele não tinha nada a ver comigo, não gostava de nada que eu gostava, tinha hábitos que eu abominava, mas sabia como me fazer chegar ao orgasmo. Sabia como curar minha carência, conhecia todos os detalhes do meu corpo e isso bastava. Eu não era a garota perfeita, adorava as coisas que ele mais detestava, tinha mania de limpeza mas estava sempre disposta a transar na hora que ele quisesse. A gente era um desses casais que nunca deveriam existir, mas a gente estava juntos, por razões que nem Freud poderia explicar. Não era química, era puramente físico. Se eu sumisse por 1 mês ele nem perceberia. Se ele morresse, eu nem sentiria falta. E toda vez que a gente ficava junto, essa sensação de culpa aumentava. Era como se estivéssemos cometendo um crime, infringindo todas as leis do estado. Era como nadar contra a correnteza. E isso chegou a ponto tal que nem avançava e nem terminava. Virou um costume, uma rotina, um ritual que deveria ser cumprido todos os dias. Não era a presença do outro que fazia falta, era o toque, o puxão de cabelo, os gemidos, a gozada. Era nojento, imundo, desprezível. Era como ter algo que não te faz bem só pelo prazer de ter, de esfregar na cara dos outros.
    Enquanto ele dormia, eu enrolava meu cabelo entre os dedos e fumava aquele cigarro barato. Cutucava as unhas do pé, passava a língua pelos lábios e coçava a orelha esquerda. Ele nem se movia. Respirava silenciosamente e tinha a boca entreaberta. Lá fora chovia sem parar mas eu tinha certeza que o frio que fazia aqui dentro era milhões de vezes maior. Aqui dentro nada fazia o menor sentido. Eu não fazia o menor sentido e as horas pareciam não passar nunca. O silêncio era a melhor coisa que estava acontecendo.

- Cibele?
- Han?
- Deita aqui do meu lado.
- Pra que, Ivan?
- Pra eu sentir teu corpo.
- Cala a boca, Ivan. Dorme, vai.
- Mas eu não to com sono, Bel.
- Então levanta. Faz qualquer coisa, cara. Só fala nada.
- Ainda são 2 da manhã, a gente tem um tempão juntos. Deita aqui, Bel.
- Ivan, você quer o que para calar sua maldita boca?
- Você.

    E coisa que eu menos queria era ele. Era a gente.

Listen: No light, no light – Florence and The Machine

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