suddenly
"A única coisa errada sobre o amor é não acreditar nele."
Sabe o amor? Pois é, eu também não sabia o que era. A única coisa que eu sabia é que ele acontece. Sabia que ele te pega desprevenido, não te avisa quando vai chegar e nem quem vai afetar. Ele não pede licença, não pergunta sua opinião, nada disso. Um dia você acorda e percebe que ele está lá. E comigo foi assim. Pra ser mais exato, foi durante a partida da final do time de futebol do colégio.
Eu passei minha adolescência sendo o garanhão do Monte Serrat. Metade das garotas daquele colégio já foi apaixonada por mim e a outra metade eu parti o coração. E tinha a Helen, que estava fora dessa divisão por ser minha melhor amiga. Helen é diferente de todas as meninas. Ela me entendia, me ajudava com os trabalhos (na verdade ela fazia meus trabalhos), me dava carona, me emprestava dinheiro, escolhia minhas roupas... Ela era a minha parceira. Ela vivia dizendo:
- Marcelo, você precisa de uma namorada. Não dá mais pra eu ficar bancando a sua mãe, amiga e conselheira ao mesmo tempo. Desse jeito eu vou chegar aos 30 anos com você a tira-colo.
Todos os lugares que eu ia, Helen também ia. Ela fazia parte de todos os momentos importantes e decisivos da minha vida. Por isso, não seria surpresa dizer que ela estava naquele jogo.
Foi uma partida agitada e imprevisível. O time do Monte Serrat entrou como favorito, mas a gente teve muita dificuldade pra conduzir o jogo. O goleiro do time do Castelhano era muito bom e o artilheiro do campeonato estava no time deles. Mas eles não contavam com um camisa 7 tão bom quanto eu. Vencemos o jogo por 2x0 no final das contas. Os dois gols de minha autoria. E foi exatamente no final do jogo, quando eu levantei a taça que eu percebi que aquele momento que todos falam tinha chegado.
Eu acho, na verdade, que já tinha acontecido há muito tempo, mas eu estava tão cego na minha galinhagem que não percebi. Foi só naquele instante em que aqueles olhos verdes me fitaram e aquele sorriso torto me parabenizou a distância, que eu percebi que era ela. Sempre foi ela. Passei a taça pro capitão do nosso time e sai correndo, desesperadamente sem me importar com as meninas suspirando quando eu passava. Nada disso me importava naquele instante. Eu só queria chegar até a dona dos olhos verdes e do sorriso torto. E quando eu finalmente cheguei lá, falei:
- É você!
- Oi?
- É você!
- Claro que sou né, Marcelo? Você está perdendo tempo, tem uma fila de meninas histéricas esperando pra pegar seu telefone e você prometer que vai ligar.
- Não, você não está entendendo. É você, Helen. Sempre foi você.
- Tá, Marcelo. O que foi agora?
- Helen, eu acabei de perceber que é você quem eu quero quando aquele momento importante da minha vida se concretizar. É você quem eu quero andando comigo, acordando comigo. É o seu sorriso e o seu olhar que me motiva todos os dias. É você, Helen. E eu acho que sempre foi, desde o dia em que eu pisei no seu pé na fila da cantina quando a gente tava na alfabetização.
E então, eu a beijei. O mundo parou completamente; toda a gritaria do estádio parou, os suspiros de candidatas a ter o coração quebrado sumiu. E eu soube, naquele instante, que o amor tinha chegado. Pra nós dois. Porque, afinal de contas, a gente sempre sabe a hora de dizer “é você”.
Listen: Pitangueira – Monique Kessous
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