a menina que se escondia em livros
Todos nós temos uma história. E o mundo te dá mais duzentas.
Era uma manhã qualquer de março quando a vi pela primeira vez. Ela ficava no mesmo banco, sempre. Não importava se chovia ou se estava calor e o sol queimava a pele dela. Na verdade, tenho a impressão de que aquele lugar tinha uma espécie de imunidade ao mundo. Ela tinha cabelos longos com uma cor dessas que a gente só vê em atrizes de Hollywood e uma cruz no dedo (nunca soube o porquê... talvez ela fosse Católica fervorosa, talvez era um lembrete eterno). Ela me chamou atenção, assim, de gra-ça.
De um modo geral ela era comum como qualquer adolescente aos quinze anos, bem na fase de transição interna entre ser mulher e ser menina. Aquela estava sempre com a cara enfiada num livro. Nunca piscava, nunca sorria, nunca chorava. Sua íris se movimentava de um lado para o outro, os dedos constantemente iam para a ponta de sua língua e para o papel, as páginas mudavam numa cantilena já previsível. "CHUP...CHUP...CHUP...CHUUP." Já dei vários nomes diferentes pra ela: Maria, Renata, Tereza, Carolina, Amália, Joana, Larissa, Ívina. Meu preferido era Tereza, que acabou ficando até reduzir pra Tê. Já imaginei várias histórias para a vida dela, mas a verdade nunca soube.
Um dia uma lágrima atravessou a sua face. Ela lia "A menina que roubava livros".
a menina que se escondia em livros
Reviewed by carolina
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março 18, 2013
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